Não esqueça a minha Caloi

Não esqueça a minha Caloi

Sabe aquele lance do comportamento das pessoas que vem mudando a cada dia? E que, na minha humilde opinião, mais parece uma revolução do comportamento humano? Em se falando de consumidor, navegamos um monte nas últimas semanas, na busca de entender o que procuram, como nos comunicarmos de forma efetiva com eles, com propósitos claros e respeitando a moral e os bons costumes, hoje super em alta. 


As pessoas que enlouqueciam de amores por propagandas do passado, hoje criticam posicionamentos bem humorados sobre o dia a dia e qualquer comunicação “atravessada”.


Tudo positivo

A política é boa, não há dúvidas. O mundo já está cheio de coisas complicadas para fomentar qualquer olhar preconceituoso ou piada de mal gosto através da propaganda. Ocorre que ficou mais difícil fazê-las. Exige mais. Um maior entendimento sobre o que está acontecendo com o comportamento humano, desconstruindo o que já funcionou e já foi bom, dando espaço a um olhar novo que caminhe delicadamente sobre o piso crítico e delicado do julgamento das pessoas. Tudo isso, mas positivo. Que eleva o bem do ser humano.


Para construir mais à frente é preciso olhar para trás, não é assim que se diz? Pois é…


Olhar para o passado

Estava lendo um artigo essa semana que me trouxe deliciosas memórias, mas que me “taparam” de medo quando as imaginei hoje, na televisão da minha sala.


O que dizer às crianças, à minha menina de nove anos, sobre a queridíssima propaganda do “meu primeiro sutiã” da Valisere, que fez parte da minha infância? Que aquele homem que passa a perceber a menina com desejo pode ser a cena natural de um pedófilo dos dias de hoje observando uma menina menor de idade? Não dá. Arrepiei de pensar naquela linda mídia da época aos olhos da minha menina, e mesmo, aos meus olhos de hoje.




Comercial da Valisere de 1987

E o famoso jargão “compre batom”, referente ao chocolate Garoto? Não há quem não goste daquela delicia com café, nem de assistir a uma criança na propagando a exibindo como um pendulo de hipnose. Só que se trata de uma manipulação infantil, e hoje vivemos épocas de contestação do comportamento “empoderado” das crianças sobre os pais. Só por isso, ela não serve mais. Seria com certeza vaiada nas redes sociais por um bando de blogs de família, criação de filhos ou mesmo por celebridades politicamente corretas. 




Comercial “Compre Batom” dos anos 90

Está certo, também não gostaria dela na minha televisão hoje.


“Os tempos mudaram”

O mesmo serve para os cigarros Hollywood e suas lindas paisagens, para as belíssimas campanhas do cigarro Charm e seus modelos “charmosos” e bem sucedidos, ou para a “bonita camisa do Fernandinho”, naquele ambiente que promovia uma mesa de diretores de uma empresa composta somente por homens brancos, onde a única mulher era a secretária. 


Os tempos mudaram. O jeito, um dia premiado e reconhecido em livros de publicidade na arte de comunicar, hoje traria sérios problemas às marcas. Conflitaria de forma irreparável valores do ser humano contemporâneo. Então, não basta termos boas ideias. Nem excelentes. Nem engraçadas. Precisamos nos conectar a estes valores novos e extremamente fortes sobre os quais aprendemos todos os dias. Estes que nasceram na última década e que se consolidaram nos últimos anos dentro das pessoas.


Eles definem quem somos hoje e definem a propaganda. Por isso, quando pensar em uma ideia bacana, fecha a porta da sala e percebe ela de todos os ângulos. E coloca à sua volta as pessoas. Esse novo consumidor. 


Se não agredir a ninguém, toca em frente! Achaste uma das boas. 🙂


Juliana Silveira é co-founder da Dtail Gestão de Conteúdo e criadora do blog New Families, onde escreve semanalmente com um olhar de sensibilidade única sobre o recomeço da família após o divórcio. É também autora do livro Divórcio: A Construção da Felicidade no Depois.

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