Novembro Azul, um oceano profundo…
Mês passado, no Outubro Rosa, tive o privilégio de escrever sobre histórias de garra das sobreviventes dessa doença tão cruel com a mulher, que é o câncer de mama. Que, como se já não bastasse ser câncer, ela ainda envolve o seio, tão cheio de feminilidade e delicadeza, tão simbólico para a mulher. Aí, a mulher essa, que busca vida, arruma feminilidade em outros lugares, e traz à tona a doçura do feminino da esperança, dos lenços na cabeça, dos amigos da ausência dos cabelos, da cor. E toca a vida… e dá exemplo.
Pois bem. Estamos no Novembro Azul. E elas seguem vivendo o dia a dia da busca pela recuperação, pela beleza na doença, pelo aprendizado que fica desse momento de dor e resiliência. Enquanto, no novembro, é trazida a dor do homem. Este que não carrega fitas azuis nas camisas, nem no perfil das redes sociais, nem nas caminhadas de apoio aos que enfrentam a doença que os abate de forma também tão cruel. Pois esta ocorre no corpo masculino. No órgão que é só deles. Que representa sua diferença fisiológica, sua masculinidade.
Falas do corpo
O câncer de próstata, tipo mais comum entre os homens, é a causa de morte de 28,6% da população masculina que desenvolve neoplasias malignas. No Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Essa moléstia, que tem como fator de risco o histórico familiar de câncer de próstata em pai, irmão ou tio, que abate homens negros com maior incidência e que tem a obesidade como prato cheio, chega como um trator na vida deste ser masculino que pouco se acompanha. Que não se atenta as falas do corpo. Aos sintomas da doença que chega. E isso, que não é regra, se trata do comportamento não de todos mas da maioria. Essa que não se abate. Que não perde tempo. Que não acha brecha na correria do dia a dia para um médico, para si mesmo.
Tenho medo dos homens às vezes. Dessa fortaleza oca que identifico nos que amo. Pai, amigos, marido. Que sofrem da dor de um sintoma esquisito, mas se indignam à necessidade de uma visita ao médico. Que se acham invencíveis, ou no mínimo sem tempo. Que se calam frente a si mesmos.
Todos em uma luta só
Em linhas gerais, as mulheres lidam melhor com a dor, talvez por conta da sua história fisiológica ou dos seus desafios sociais na evolução dos tempos. Talvez por isso abrem sua dor e a compartilham com mais facilidade. Em contrapartida estão aí os nossos parceiros na vida. Amigos, pais, filhos, amores. Com tanto receio dela. Com tanta sensibilidade.
Pois bem. Sou fã dos caras. Pois apesar dos tantos desafios a que foram e são convidados a enfrentar na evolução humana, quanto a força física, ao desenvolvimento do intelecto, do amparo e do lido com as figuras femininas, tão distintas na sua estrutura física e psíquica, mas tão queridas em suas vidas, se colocam curvados a dor. Se colocam humanos frente a diagnósticos como o câncer. Em linha com as suas parceiras de convivência na terra. Lado a lado com as mulheres. Estas, que neste momento, os emprestam compreensão e outras habilidades que carregam em sua bagagem com mais facilidade, e recebem a honestidade da fragilidade masculina de volta, os braços abertos. Do reconhecimento do homem na posição de ser finito. Que também sente dor, que também tem medo de faltar, que também sente falta da cor e dos cabelos na vida. E aí, estão todos em uma luta só.
Atenção aos sinais
Por isso, atentem-se amigos. O câncer de próstata não apresenta sintomas e quando alguns sinais começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Sinais como dor óssea, dores para urinar, vontade de urinar com frequência, presença de sangue na urina ou no sêmen, enfim… coisas do corpo que fala. Das conversas dele com a gente. Dessas para as quais não podemos tapar ou ouvidos ou ignorar. Pois rosas ou azuis, todos queremos meses de muita vida nessa vida. E o primeiro passo, é prestar atenção em si.
Este é um apelo. Para as mulheres, que sigam com suas fitas rosas e sua luta meses afora. Para os homens, que se atentem aos seus sinais. Os queremos vivos, produtivos, felizes e amigos na luta. Os queremos companheiros. De mãos dadas. Seja pelo que for.
Juliana Silveira é criadora do blog New Families, onde escreve semanalmente com um olhar de sensibilidade única sobre o recomeço da família após o divórcio. É também autora do livro Divórcio: A Construção da Felicidade no Depois.